domingo, janeiro 27

- MEU MOMENTO -



 - Metade -

Que a força do medo que tenho
 Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
 Não me tape os ouvidos e a boca
 Porque metade de mim é o que eu grito
 Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
 Seja linda ainda que tristeza
 Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
 Mesmo que distante
 Porque metade de mim é partida
 Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
 Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
 Apenas respeitadas
 Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
 Porque metade de mim é o que ouço
 Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
 Se transforme na calma e na paz que eu mereço
 Que essa tensão que me corrói por dentro
 Seja um dia recompensada
 Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
 Que eu me lembro ter dado na infância
 Por que metade de mim é a lembrança do que fui
 A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
 Pra me fazer aquietar o espírito
 E que o teu silêncio me fale cada vez mais
 Porque metade de mim é abrigo
 Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
 Mesmo que ela não saiba
 E que ninguém a tente complicar
 Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
 Porque metade de mim é platéia
 E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
 Porque metade de mim é amor
 E a outra metade também.
*Oswaldo Montenegro*



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